FLISOL 2016 #semUbuntu

Este é o segundo ano da campanha. E deveremos persistir até que haja uma reação contundente dos voluntários heróis que fazem do FLISOL o maior evento de Software Livre do mundo. Ano passado muitas cidades aderiram ao #semUbuntu e foi histórico, mas temos que melhor ainda mais.

Não há como sermos mais explícitos: por favor organizadores e voluntários do FLISOL, não instalem Ubuntu.
O Festival Latino-americano de Instalação de Software Livre (FLISOL), é um evento realizado desde 2005 e que acontece simultaneamente em várias cidades da América Latina com intuito de difundir o software livre por meio da instalação de sistemas operacionais e aplicativos livres. Porém nas últimas edições, a maioria dos voluntários passou a instalar o Ubuntu nos notebooks e computadores dos visitantes, com a melhor das intenções.

O problema é que Ubuntu não é software livre faz muito tempo! Seja pela quantidade de código não livre embutido nele, seja pela sua postura eminentemente comercial, seja pelo seu absoluto desrespeito pelos princípios éticos e filosóficos do movimento do software livre.
Em nossa humilde opinião, os voluntários do FLISOL acham que estão fazendo o bem, porém estão confundindo modelo de desenvolvimento de código fonte aberto (definido pela Open Source Initiative) com o movimento filosófico do software livre (definido pela Free Software Foundation), estão difundindo mais software não livre que qualquer outra coisa.

Porque a implicância com o Ubuntu?

O projeto Ubuntu distribui vários dados funcionais não livres (não somente software não livre), além de distribuírem vários dados não funcionais não redistribuíveis (que não podem ser nem compartilhados, nem vendidos). Além disso, Ubuntu foi a única distribuição GNU/Linux que instalou, a partir de outubro de 2012, software malicioso para coletar dados de seus usuários, sem dizer nada a ninguém. Isso é antiético, imoral e vai de encontro a todos os princípios do Software Livre. Só isso deveria bastar, mas a Canonical deixou claro em sua defesa sobre o spyware que instalou secretamente, que ações desse tipo são normais no mundo corporativo e que não se arrependia. E ainda tem mais: criticou diretamente a Free Software Foudation (FSF) e o Richard Stallman por terem exposto o problema ao público \”da forma como fizeram\”.

Então se unirmos os dois problemas – software não livre + comportamento contrário ao movimento filosófico do software livre – qual é o motivo que leva o Ubuntu a ser a distribuição GNU/Linux mais instalada em todas as edições do FLISOL? Facilidade, praticidade, compatibilidade? Se sua resposta for sim para qualquer uma dessas, lembre-se: esses são argumentos do modelo de desenvolvimento de código fonte aberto e não do movimento filosófico do software livre. O objetivo primário é defender as quatro liberdades essenciais da sociedade para com os dados funcionais.

Instalar outras distribuições pode?

Não deveria poder, afinal de contas a maioria das distribuições usa kernel Linux e este já está tão infectado de softwares não livres, que mal dá para categorizá-lo como um software livre. Assim distribuições como Fedora, Mandriva, openSUSE, Debian e outras mais populares, estão fadadas à mesma condição do Ubuntu. A diferença está em não usar a pior delas, para a comunidade do software livre.

Retroceder para voltar ao rumo certo

Recusar formalmente a instalação do Ubuntu seria um recado claro de que a comunidade do software livre não aceita mais os abusos cometidos. Que não aceita mais a inclusão constante e crescente de software não livre em suas distribuições GNU/Linux mais queridas. Pensem no efeito que um posicionamento como esse teria e os benefícios que alcançaríamos como movimento social e político, depois de toda a experiência adquirida nos últimos anos?

Dar dois passos para trás, para poder dar um à frente, na direção certa. Sejamos francos, até quando vamos continuar nos submetendo aos abusos de poder dado por nós mesmos aos fabricantes de notebooks, aos desenvolvedores do kernel Linux e a empresas como a Canonical. Todos eles parecem cada vez mais interessados em seus próprios negócios do que em fomentar e disseminar a cultura do software livre.

E qual é a sugestão?

Apontar um problema e não oferecer nenhuma solução não seria correto, então seguem algumas sugestões práticas para o FLISOL:

a) Escolha uma distribuição de sistemas livres recomendada pela FSF https://www.gnu.org/distros/free-distros.html ;
b) Sugerimos a distribuição Trisquel GNU/Linux (http://trisquel.info), exatamente porque se baseia no Ubuntu LTS e isso facilitaria encontrar documentação e opções on-line;
c) Substitua o hardware incompatível, em especial as placas wifi. Como? Aqui conto como fiz: http://www.anahuac.eu/sua-liberdade-por-r-2000/
d) Se não for possível substituir a placa wifi permitam uma exceção de driver não livre usando o ndiswrapper para permitir o funcionamento das mesmas;
e) Automatizem via script a instalação dos pacotes não livres mais comuns: codecs multimídia privativos, Java, e outros, mas não executem vocês mesmos. Deixem que as pessoas façam isso elas mesmas.

Elas são livres para escolher usar ou não software não livre, mas o FLISOL e os ativistas do movimento filosófico do software livre não.

Consequências diretas

O primeiro incômodo é ter que explicar as pessoas que cheguem ao FLISOL procurando instalações de Ubuntu, porque não se instalará essa distribuição. A consequência imediata é criar a percepção geral de que o Ubuntu não é tão bom assim. Discutir a ética e a filosofia do software livre em um evento de software livre é super legal!

O segundo incômodo é colocar um instalador com um driver privativo, de forma evidente, sem margem a interpretações. O que os olhos não veem, o coração não sente. E isso se aplica aos blobs privativos que vem no kernel Linux, que são instalados sem que se perceba. É isso o que gera aquela \”felicidade\” de ter o hardware funcionando, mesmo que seja em detrimento de todo o nosso discurso de ativismo em prol da liberdade tecnológica.

O terceiro é trazer de volta a discussão sobre os problemas que os drivers privativos e dados funcionais não livres causam: dependência tecnológica imposta pelo poder econômico dos donos/proprietários. Neste momento é o inconveniente do DRM e amanhã será o boot restrito. Até quando vamos permitir passivamente sermos limitados, constrangidos e relegados? O dia em que não será possível instalar mais um sistema operacional livre está chegando. Vamos reagir?

Apelo

Este á um apelo para que o FLISOL seja a força propulsora para que o movimento filosófico do Software Livre volte a ser valorizado como deve, para que seus princípios éticos e filosóficos sejam priorizados, para que o modelo que da mais valor à placa de wifi funcionando do que a liberdade tecnológica seja derrotado.

Não estamos buscando coerência plena neste momento. Trata-se do primeiro passo do resto de nossas vidas. Todos juntos podemos fazer do Mundo um lugar melhor. Usar, difundir, desenvolver e se manter firme ao lados dos preceitos éticos e filosóficos do Software Livre é um dos caminhos para se alcançar esse objetivo.

Saudações Livres!

Alessandro Moura
Anahuac de Paula Gil

1 comentário em “FLISOL 2016 #semUbuntu”

  1. Pingback: Por um FLISOL consciente – AcessoMe

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